A vida não é feita só de emoções, mas também de razões

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A vida não é feita só de emoções, mas também de razões

Razões, mala, flores

Tem palavras que não faria falta nenhuma não sabermos. Distância, ausência, saudade. Por que lembrar faz uma série de química no corpo que nos provoca efeitos nem sempre sob controle? Eu queria olhar para o dia triste que se forma lá fora, sem sol, sem chuva, com pouca luz difusa, sem vento, sem brisa, e achar que a chegada do verão é apenas uma mudança, não um fim. Eu queria saber acreditar e tanta coisa seria diferente.

Lá fora a grama cresce solta sem limites.
E as flores também…

Onde cresce o mato cresce o amor também. Um amor áspero como o dia que não se define. Um amor selvagem, subindo entre as ervas que plantei com carinho e atenção. É tudo verde, tudo verde, mas um é mato e o outro é erva. Com um farei chás, perfumarei pratos, lembrarei de coisas que vivi ou viverei; com outro escondo o que fiz. Deixo-me medrar solta a liberdade profunda de ser, única, indomável, impenetrável.

ervas chá

Não digo que não aprendi nada com isso. Claro que sim. Já não tenho dores de cabeça como antes, com uma pressão no alto me lembrando que a vida não é feita só de emoções, mas também, e muito, de razões. Qual a razão da planta? Que estratégia de vida a árvore tem para si? Minhas cachorras entrando em casa e cheirando os gatos têm um suspeito motivo. Todos querem atenção. Todos. É para isso que uns fazem flores, outros fazem perfumes, outros fazem doces. Para ter abelhas rondando, para ter beija-flores beijando. Para ter olhares carentes profissionais nos dobrando e deixando ficar, deixando ser. Razões que geram emoções, ás vezes até atitudes.

Eu sobro em razões…

Me debulho num paiol para secá-las e usá-las no tempo da estiagem. No tempo em que, querendo ficar mais comigo mesma, guardo-me para dentro das janelas. Olho a vida pela moldura quadrada da minha casa, aberta, claro, para que haja luz. Para que possa ver sem sonhar, sem querer. E talvez deixar deus falar comigo, eu que quase nunca escuto o que é delicado e sutil. Eu que, na noite estrelada e escura, consigo ter medo do mundo se acabar e me perder sem rumo e sem direção. As razões não me ajudam, mas estão lá e aqui, em toda parte. Vou colhê-las quando for colher hortênsias para enfeitar a casa. Assim, talvez também, possa fazer arranjos lindos, coloridos de azul ou rosa, e melhorar a aparência dos sentidos. Dos sentidos ocultos nos gestos sem sentido. E nesse sem sentido de haver mais emoções que sangue num corpo de mulher.


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Fernanda Kurebayashi
Fernanda Kurebayashi
É uma experimentadora dos aromas, dos perfumes e dos sonhos. Uma alquimista, investigadora de cheiros e de sabores que assina suas criações colocadas em potes como “A Senhora das Especiarias”. Fernanda mudou-se para Gonçalves – pequena cidade de MG, lugar mágico encravado na Serra da Mantiqueira – a procura de uma vida longe do estresse do trabalho corporativo e da cidade grande. Sua história tomou uma nova direção e hoje surfa numa onda que é linda e também desafiadora: acreditar na vida e nas pessoas.
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