Quanto do que foi “ antes ” permanece no “ agora ”?

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Quanto do que foi “ antes ” permanece no “ agora ”?

Agora, fusca

Quanto tempo dura o agora? E quanto do que foi “antes” permanece nesse agora? Como seguir em frente, crescer, ampliar a consciência no que sou hoje sem o peso do que já foi e já fui? Como olhar para frente sem sentir o vento do que passou soprando na nuca, cochichando na orelha? Afinal, o que é ressurgir? Renascer? O que é renovar-se?

Eu consigo andar no mesmo caminho todo dia encontrando algo de novo nele, uma flor que não havia, um pássaro que voa, inesperado, com rabo amarelo e preto, um entardecer vermelho, uma lua escondida nas nuvens, mágica. Eu consigo ver diferente o mesmo livro já lido, consigo entender o que não havia entendido antes. Eu percebo a diferença entre quem já fui e quem sou hoje (penso que melhorei muito). Mas também sei que não mudei tanto. Mudei de casa, de profissão, de cidade para roça. Mudei meu paladar, passei a comer coentro, a gostar de cerveja, cachaça, deixei de comer carne. E ainda assim, continuo sendo a mesma, como um parafuso que gira e gira e vai entrando na madeira, parecendo diminuir.

“O futuro é como esperar que o leite ferva:
quando você vê, já derramou”

leite fervendoSe eu tivesse que escolher um tempo que não existe, para mim, esse tempo é o futuro. Será? Quando será? O futuro é como esperar que o leite ferva: quando você vê, já derramou. Se você sair correndo, nunca alcançará. Se não fizer nada, já passou. Nunca chega. Não existe, é apenas uma possibilidade, um alento. É como acreditar em deus.

Mas o passado é algo que não é mais. Também não existe. O que sou é uma constante transformação, como o fogo que come a lenha para ficar tremeluzindo lindo e quente. A vida é um movimento, não um estado. É o vento que passa, o sangue que corre, o coração que vibra. A vida é um ritmo, a batida de um tambor, às vezes forte, às vezes nem tanto.

Se eu quisesse viver o presente, apenas o presente, esse agora que me acorda, me dá sentido, olhando para as pessoas que conheço, conversando com elas, como não me deparar com quem conheci um dia, em outro momento, e sim o que elas são agora? Quem são agora? O que elas mudaram enquanto eu não prestava atenção? O que ficou diferente? Se eu mudo a todo instante, elas também mudam. Mas o que sei eu do que mudou? Quando penso em alguém, penso em quem conheci, alguém que já não é mais.

“Sempre que aprendo uma coisa,
ela já não me serve mais”

O meu presente – o agora – é uma mistura de quem sou e o que penso que é o mundo que passou, posto que tudo muda. Você é uma imagem que conheci, e não a pessoa que é agora, porque eu ainda não sei quem você passou a ser. Sempre que aprendo uma coisa, ela já não me serve mais. Quando aprendo a lidar com uma situação, ela já acabou. Quando aprendo a lição de um relacionamento, e estou pronta para seguir em frente, já não estou mais no mesmo trem, vejo pela janela a estação ficando para trás.

“Nada é igual, mas tudo se repete”

Então, se sou também como o rio que passa, sempre outro por baixo da ponte, sempre é outra a ponte que vejo passar. Nada é igual, mas tudo se repete. Quando penso que atingi o mar, eis que estou presa numa curva, carregando tanta bugiganga que parece que fiquei ali, no mesmo tempo, sólida. No entanto, o rio é a curva, é o mar, é a nuvem, e é a queda barulhenta, fumacenta, que alisa as pedras, e não volta jamais. O rio é também a lágrima que escorre, e a boca que se enche de água só de pensar. O instante. O átimo. Aquele momento em que nem sei o que aconteceu ainda. Porque, quando sei, já parou de doer.

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No momento em que penso, continuo sentindo, e assim, tudo se amplia, tudo se espraia e fica sem palavras. Mas, de tudo que passa e se move, de tudo que muda ou transcorre, de toda essa vida que se derrama como se corresse fora das veias, no mesmo sem tempo de entender, no ritmo vertiginoso do piscar dos olhos de brahma, eu procuro por um “porque”, por uma razão, eu procuro desesperadamente ter calma para não me perder, para responder à minha insatisfação com um movimento acolhedor, de aceitação e afeto, porque toda insatisfação é um motor de arranque, não é uma lição ou um aprendizado, é apenas uma energia que não pode ser ignorada. E talvez porque, por entre as brumas surreais que há em todo relacionamento, haja quem sabe uma mão estendida me esperando para ser descoberta.


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Fernanda Kurebayashi
Fernanda Kurebayashi
É uma experimentadora dos aromas, dos perfumes e dos sonhos. Uma alquimista, investigadora de cheiros e de sabores que assina suas criações colocadas em potes como “A Senhora das Especiarias”. Fernanda mudou-se para Gonçalves – pequena cidade de MG, lugar mágico encravado na Serra da Mantiqueira – a procura de uma vida longe do estresse do trabalho corporativo e da cidade grande. Sua história tomou uma nova direção e hoje surfa numa onda que é linda e também desafiadora: acreditar na vida e nas pessoas.
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