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Crônica: Vagarosamente na chuva

chuva

sino, igreja

O auto-falante da igreja, hoje às 8:30h da manhã, anunciava o falecimento de uma pessoa local.

Continuei a dormir.

12:23h acordo novamente! Já estava na hora de levantar. Fiz o almoço, lentilha com abóbora, e almocei sozinha.

Comi, li, escutei música. Resolvi dar uma caminhada até na praça. O céu anunciava a chuva, mas não me desanimou. Na maioria das vezes ele anuncia, mas a chuva não vem. Me fui.

Caminhei, olhei vitrine, vi pessoas. Lá pelas tantas veio a chuva.

Me esquivei no toldo da rodoviária junto de mais várias pessoas. Fiquei ali contemplando a metamorfose acontecer. Céu carregado, serra transformada, pássaros voando.

Uma pergunta insistentemente permanecia em mim: por que eu não continuei a andar na chuva?!? Achei melhor não. Cidade pequena, iam pensar que eu era…

Quando acabo de me convencer a seguir dentro do esperado, olho pro lado e vejo senhores andando com calma e solenemente pela estrada. E com o tempo, cada vez mais pessoas caminhando com a chuva.

Eu não entendia o que via.

Eis que um pouco mais ao longe, um bolo de pessoas: senhores, senhoras, crianças. Todos andando vagarosamente na chuva.

No meio deles o caixão do nativo falecido.

Não me contive, fui junto.

A chuva abençoava a procissão. Era lindo. Na igreja os sinos recepcionavam a todos e anunciava o renascimento.

Estávamos encharcados e de alma lavada.

E o barro vermelho escorria formando desenhos no asfalto.

Tiradentes, 21 de setembro de 2002.

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Lúcia Vernet
Lúcia Vernet
Primeira Dramaterapeuta Antroposófica brasileira, atriz, arteducadora e pedagoga antroposófica. Trabalha com formação de adultos através de processos vinculados a educação, ao teatro e as histórias de vida. Já realizou trabalhos em várias regiões do país, bem como Argentina, Chile, Peru, Bósnia & Hezergovínia, Canadá e China. “Fatos reais ampliados por um olhar reflexivo serão apresentados para que cada leitor possa fazer um processo de reflexão interna a partir da experiência do outro, proporcionando uma comunhão entre a vivência alheia e a sua própria história de vida.” Saiba mais sobre Lúcia
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