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Como projetar um escritório que ofereça qualidade de vida

Enxergar a arquitetura dos ambientes somente pelo seu valor estético, sem se preocupar com a saúde e qualidade de vida dos profissionais que irão trabalhar nestes espaços, é um alto risco para as empresas. Nos dias de hoje, principalmente neste momento de instabilidade econômica onde não se pode correr o risco de gastos inesperados com ações trabalhistas, o projeto de um escritório deve não somente zelar pela boa aparência, mas também, garantir o bem-estar, a segurança e a saúde dos colaboradores.

Como seres sensoriais, somos impactados o tempo todo por tudo ao nosso redor, seja pelos nossos pensamentos, pelas pessoas com quem convivemos ou mesmo pelos ambientes que frequentamos. Nos locais de trabalho essas influências tornam-se ainda mais intensas, pois passamos cada vez mais tempo sentados na frente do computador em escritórios que, muitas vezes, são projetados de forma inadequada, trazendo sérios prejuízos à saúde dos profissionais. 

Segundo resultados da Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo IBGE em 2013, já são mais de 3,5 milhões de profissionais no Brasil que sofrem com lesões por esforços repetitivos (LER) e distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT). Além das doenças físicas, sintomas de depressão e ansiedade, muitas vezes provocados pelo trabalho, também são frequentes em nosso país. A pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS), recentemente divulgada, apontou o Brasil como o país com a maior taxa de pessoas com transtornos mentais da América Latina, aproximadamente 5,8% diagnosticados com depressão e 9,3% da população com sintomas de ansiedade.

Dados como estes comprovam que algo está inadequado, seja a rotina e os hábitos dos profissionais, ou então, o próprio ambiente onde estão inseridos e seus equipamentos utilizados durante o expediente.

Para evitar que os diagnósticos de doenças relacionadas ou trabalho continuem crescendo é importante reavaliarmos os ambientes corporativos, planejando-os de forma adequada para que não prejudiquem à saúde dos profissionais.

Seguem abaixo alguns pontos importantes a serem considerados:   

FOCAR NO COLABORADOR

O principal objetivo de qualquer projeto para um ambiente de trabalho deve ser “focar nas necessidades dos usuários”. Isso significa: adaptar o ambiente ao ser humano ao invés do ser humano se adaptar ao ambiente. Parece óbvio, mas muitas vezes esse principal objetivo acaba se perdendo em função de custos, da estética ou mesmo de decisões de projeto baseadas somente nas informações dos gestores.

O primeiro passo para o planejamento de um escritório que estimule a saúde é conversar individualmente com cada um dos profissionais da empresa. Através de um formulário e levantamento fotográfico é possível conhecer a percepção e experiência de cada um, seus agrados e incômodos, inclusive saber sobre a saúde da pessoa: Sente algum desconforto durante o trabalho? Quais são seus hábitos e rotinas? Passa muito tempo sentado em frente ao computador? Essa atenção individual é o que fará a diferença para se alcançar um ambiente personalizado com alto positivo em cada um dos usuários.

Nesta avaliação também é importante observar os dados pessoais e características físicas de cada um. Gerações diferentes têm necessidades diferentes, assim como perfis físicos distintos também podem definir características espaciais diferentes.   

O ideal é que o ambiente atenda ao máximo as necessidades de cada um dos profissionais, porém quando não for possível chegar neste nível de detalhamento, ou mesmo em casos de novas empresas onde não se sabe ainda o perfil que serão os colaboradores, o ideal é planejar um ambiente o mais flexível possível. Para isso, recursos como cadeiras e mobiliários com múltiplas regulagens, assim como iluminação com acionamento individual e equipamentos móveis podem auxiliar no atendimento universal.

ATENDER TODAS AS NORMAS VIGENTES

Assim como em qualquer área da nossa sociedade, os ambientes corporativos também precisam atender uma série de condicionantes para o cumprimento de normas e leis específicas. Em relação à legislação trabalhista, a garantia para a segurança e o conforto dos profissionais no local de trabalho se dá através de uma de exigências estabelecidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, entre elas, a Norma Regulamentadora NR 17, a qual aborda o assunto da Ergonomia.

A palavra “Ergonomia” tem origem grega e significa, a partir de sua tradução, “Regras de Trabalho” ou “Regras para o Trabalho”.  O cientista e biólogo polonês Wojciech Jastrzebowski foi o primeiro a inserir o termo em uma publicação, e a partir de então, a palavra „Ergonomia” entrou para o dicionário em 1857. Somente 92 anos depois, foi criada a primeira sociedade de ergonomia, a „Ergonomics Research Society”, na Inglaterra, a qual define o conceito da seguinte forma: „Ergonomia é o estudo do relacionamento entre o homem e seu trabalho, equipamento e ambiente e, particularmente, a aplicação dos conhecimentos de anatonomia, fisiologia e psicologia na solução de problemas desse relacionamento”.

A NR 17 visa a estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. Estabelece condições mínimas exigidas nos seguintes assuntos:

17.2 Levantamento, transporte e descarga individual de materiais;

17.3 Mobiliário dos postos de trabalho

17.4 Equipamentos dos postos de trabalho

17.5 Condições ambientais de trabalho

17.6 Organização do trabalho

Nas Condições Ambientais, além do cumprimento dos itens estabelecidos, a norma também faz referência as normas brasileiras NBR 10152, para definição de níveis de ruídos aceitáveis, e NBR 5413, para consulta de níveis mínimos de iluminamento nos locais de trabalho.

A necessidade do atendimento de todas as normas vigentes é reforçada, pois segundo nossa legislação é obrigatório o cumprimento de todas as NR’s e a não obediência sujeita a empresa às penalidades previstas na Seção XVI da CLT, multas previstas na NR-28 e em último caso embargo ou interdição.

ADEQUAR TAMBÉM ELEMENTOS QUE INFLUENCIAM
NO BEM ESTAR E NA SAÚDE DOS PROFISSIONAIS

Provavelmente você perceberá, a partir dos resultados da análise inicial com cada colaborador, que algumas necessidades nem sempre são atendidas com o cumprimento de normas. Isso acontece, pois como falamos anteriormente, absolutamente tudo ao nosso redor influencia na forma como nos sentimos em um ambiente. Sendo assim para se alcançar bons resultados de saúde mental dos colaboradores, é importante que observar quais outros elementos do espaço influenciam no sentimento de bem-estar. Quando nos sentimos bem, felizes, inspirados e entusiasmados, produzimos emoções positivas, que desencadeiam liberações de dopamina (hormônio do prazer) em nosso cérebro. Um ambiente físico inteligente, bem planejado e ambientado, é capaz de produzir esse efeito biológico nos profissionais. Essa é a diferença entre projetar um ambiente que simplesmente atende as normas ou ambientá-lo, como nos referimos no meio da arquitetura.

Como aqui estamos buscando atender ao máximo as necessidades dos profissionais, a sensação de bem-estar deve ser considerada, avaliando sua relação com a composição dos espaços, assim como, com as cores predominantes e com a presença de elementos naturais no ambiente.  

COMPOSIÇÃO DOS ESPAÇOS DO ESCRITÓRIO

Com o avanço da tecnologia e o surgimento da internet, hoje em dia, não é mais preciso ficar sentado na mesa de trabalho para trabalhar. Muitas empresas já se deram conta que oferecer múltiplos espaços para os colaboradores trabalharem pode trazer muitos benefícios para a performance profissional.

Espaços de trabalho estilo “Google”, com áreas de descompressão, cafés, pufes e ambientes divertidos têm sido cada vez mais frequentes e atendem de forma bem-sucedida a necessidade de liberdade, principalmente das novas gerações. Mas o interessante é que já existem explicações lógicas e racionais para essa influência positiva.

Uma primeira explicação diz respeito a estimular os profissionais a serem mais ativos. Ambientes que oferecem múltiplos espaços para trabalhar incentivam os colaboradores a não ficarem sentados o tempo todo. Desenvolver o hábito de se levantar com frequência e caminhar durante o expediente evita problemas físicos de má postura além de estimular hábitos mais saudáveis e melhorar a circulação sanguínea.

Outra justificativa biológica, comprovada pela neurociência, é que ambientes enriquecidos, como são chamados, estimulam a neuroplasticidade cerebral, ativando diferentes áreas do cérebro, estimulando habilidades de inovação e criatividade entre os profissionais. Outros benefícios da plasticidade neural também são associados com a prevenção de doenças degenerativas, como o Alzheimer.

CORES NO ESCRITÓRIO

Colorir os espaços pode ir muito além de modismos e, realmente, ter um efeito biológico no bem-estar dos profissionais. Pesquisas da neurociência demonstram que cada cor impacta de uma forma diferente em nosso sistema nervoso. Na prática, muitas organizações já se deram conta de que investir de forma inteligente nas cores dos ambientes pode ser uma estratégia para promover a satisfação de seus colaboradores.

A cor é percebida por células dos nossos olhos chamadas de “cones” e a partir de então, a informação visual do ambiente é enviada ao cérebro, o qual interpreta e ativa determinadas regiões que acabam por despertar emoções e comportamentos.

Nos dias de hoje, manter o foco no trabalho e evitar altos níveis de stress são os principais desafios do meio corporativo. Por isso, para que os ambientes possam contribuir com a concentração e tranquilidade, o ideal é investir em tons de azul e verde, que ativam a região do córtex pré-frontal, acalmando a mente, reduzindo a pressão arterial, aumentando a consciência e nos dando mais clareza mental para nossas atividades. 

Dentre todas as cores, o vermelho é aquela que mais deve ser dosada quando aplicada. A justificativa biológica para esse cuidado é que, quando enxergamos tons de vermelho, ativamos uma região do nosso cérebro chamada de Amígdala. Essa parte do cérebro está relacionada ao nosso comportamento mais primitivo de lutar ou fugir em uma situação de perigo. É a nossa defesa biológica e quando ativada nos deixa em estado de alerta, tensão e ansiedade, elevando a pressão arterial e dificultando a produtividade no local de trabalho. 

VEGETAÇÃO E ELEMENTOS NATURAIS NO ESCRITÓRIO

Além das cores, a presença da natureza no ambiente de trabalho também impacta diretamente na sensação de bem-estar dos colaboradores. A pesquisa mundial “O Impacto Global do Design Biofílico no Ambiente de Trabalho” (nome original: “The Global Impact os Biofilic Design in the Workplace”), divulgada pela Human Spaces, mediu a influência do espaço físico no comportamento humano, especialmente quando expostos a ambientes com elementos naturais.

O resultado do estudo demonstra um aumento de 15% na sensação de bem-estar em pessoas que trabalham em ambientes com conexão com a natureza, seja através da presença de plantas e revestimentos naturais, ou mesmo, através de imagens ilustrando paisagens e vegetações.

Com a inserção destas estratégias ambientais nos ambientes corporativos, é possível garantir que os colaboradores trabalhem de forma mais motivada e saudável, oferecendo benefícios a todos os envolvidos, inclusive à empresa que obtém melhores resultados de produtividade.

Para concluir, é importante salientar que o trabalho conjunto entre profissionais da área da saúde e segurança do trabalho com arquitetos e especialistas em ambientes corporativos é fundamental para a criação de ambientes mais saudáveis e preventivos às doenças relacionadas ao trabalho. A união dos conhecimentos resulta em benefícios ainda maiores para os colaboradores, assim como para os resultados das empresas.

Leia também: Como me reencontrei profissionalmente

Priscilla Bencke
Priscilla Bencke
Arquiteta especialista em Projetos para Ambientes de Trabalho e Consultora Internacional em Qualidade em Escritórios “Quality Office Consultant”. Idealizadora da QUALIDADE CORPORATIVA Smart Workplaces, um conceito de espaços de trabalho inteligentes que vão além da beleza estética, melhorando o bem-estar, a qualidade de vida, assim como a produtividade dos usuários. “Hoje, vivencio todo o dia o prazer de compartilhar conhecimentos e propor soluções para ambientes que impactam de forma positiva na saúde, bem-estar e qualidade de vida das pessoas. Cumprir com esse propósito é o que me motiva e me faz seguir nessa jornada!” Saiba mais sobre Priscilla
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