Que tipo de encontros queremos ter?

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Que tipo de encontros queremos ter?

Encontros, astrologia

Na última quinta-feira, no comecinho da noite, saí de casa para pagar a academia. Como de hábito, assim que saí pela porta olhei para o céu. Como em todas as noites, já há uns bons anos, Júpiter, bem no centro do céu, me deu boa noite e eu, reverentemente o cumprimentei, feliz com o reencontro. Saí da vila e comecei a andar em direção à academia e, entre os grandes prédios, perto do horizonte, surge uma magnífica estrela, enorme, extremamente brilhante, mas que não pulsa, me seduzindo e perguntando: “não me reconheces, já se esqueceste de mim?”. Fascinada penso: Vênus?! Meu Deus, que privilégio!

Há quanto tempo! Neste meu pedacinho de céu é tão difícil estar no momento e no lugar certo para encontrar-te! Ainda incrédula olhei para cima, para ter certeza de que Júpiter não estava me pregando uma peça, mas lá estava ele, majestoso, no centro do céu. Respirei fundo, saudei-a com um sorriso de agradecimento e veneração e, sempre olhando para ela, já que meu caminho seguia em sua direção, fui à academia.

Com um bom humor inabalável pela dádiva recebida, cumpri minha obrigação e voltei. Ao sair da academia olhei para ela de novo, pois agora ficaria às minhas costas e, me despedindo, iniciei meu caminho de volta. Dobrei a esquina e quase perco o ar quando de repente, sem avisar, surge um astro ainda maior e mais brilhante do outro lado do horizonte, também sem cintilar, mas desta vez de um avermelhado quente e desafiador. Meu Deus! Marte! Sinto-me extremamente honrada por mais esta presença e, respondendo ao desafio desejo boa noite ao guerreiro, dirigindo, ainda atônita, meu olhar para o outro lado do céu para ver Vênus, passando antes pelo centro, mirando Júpiter. Uma linha perfeita!

Absolutamente arrebatada penso: “bom, Marte e Júpiter já encontrei muitas vezes e sei que, neste momento do caminho de Marte, entre os dois se encontra Saturno. Será que consigo vê-lo?” E procuro. Eis que ele se mostra, mais distante, bem menor e discreto em perfeito alinhamento com os outros três. Que deslumbramento! Que privilégio! Saúdo o senhor do tempo e fico ainda uns minutos percorrendo este caminho com os olhos, contemplando a perfeição da linha formada pelas grandiosas estrelas móveis.

Revigorada em sabedoria, beleza, coragem e profundidade, me sentindo agraciada, me despeço e volto para casa com uma alegria reverente.

Eu poderia seguir falando destes deuses planetários que nos acompanham com suas órbitas e com suas histórias desde que o mundo é mundo, mas escolhi contar de meu encontro com eles na semana passada para fazer uma reflexão sobre encontros…

Quando eu comecei a querer identificar as estrelas, há alguns anos atrás, parecia tudo uma grande imensidão cheia de pontos de luz que eu jamais saberia reconhecer. Eu olhava e nem sequer imaginava que dava para diferenciar planetas de estrelas. Aos poucos fui sabendo encontrar e diferenciar uns dos outros com a ajuda de mapas, instrumentos e aplicativos até que hoje consigo reconhecer algumas constelações e astros sozinha.

Ainda tenho dificuldades de orientação, dependendo da época do ano e da localização geográfica, mas basta localizar algumas referências e, voit-lá, os demais astros se revelam! Isso mesmo, eles se revelam! Não sou eu que os desvenda, são eles que se mostram assim que eu faço o esforço necessário para me colocar em absoluto interesse e disponibilidade para encontrá-los e conhecê-los. Eu me disponibilizo, eu me abro para a revelação de cada peculiaridade, de cada detalhe que eles têm para me contar e, neste preciso instante, eles me contam.

Agora talvez, meu caro leitor, você esteja me fazendo a seguinte objeção: como eles te contam, se revelam a você? Eles estão aí, há milhões de anos, fazendo a mesma coisa: os planetas dando suas voltas ao redor do sol, ao longo da eclíptica, através das constelações do zodíaco; as estrelas fixas na mesma relação de sempre umas com as outras na Via Láctea. Basta procurar e você vai encontrar isto em qualquer informativo de astronomia!

É verdade, mas mesmo sabendo disso, quando você olha para o céu, você consegue ver? Mesmo que você veja a lua todos os dias, você consegue realmente reconhecer seus tipos de movimento?

Encontros: revelação ou colisão?

E agora eu pergunto: o que é um encontro? É estar frente a frente, em oposição, cuja origem vem do latim incontrare = em contra. O que isto significa? Muita coisa, mas muita mesmo! Porque quando nos encontramos face a face, frente a frente, podemos fazer muitas escolhas e elas é que vão determinar se eu vou de fato conhecer o outro que se situa à minha frente ou não.

É interessante que podemos depreender desta palavra significações opostas: encontro no sentido de aproximar – ir ao encontro de algo ou alguém, achar, descobrir; mas também encontro no sentido de colidir– ir de encontro a algo ou alguém, trombada, choque, encontrão, conflito.

No entanto, qualquer que seja o resultado do encontro: aproximação e descoberta ou colisão e conflito, o encontro tem origem em uma contraposição, em um momento em que duas pessoas estão em posições opostas, frente a frente, face a face. Neste momento é possível uma escolha: abrir-se para o outro, deste modo permitindo que ele se revele, se mostre ou fechar-se e, desta forma, mesmo que o outro esteja tentando se revelar, o que vai ocorrer é um choque, pois se eu me fecho meus sentidos tornam-se paredes.

Estamos prontos para reconhecer o brilho de cada encontro?

Portanto, encontrar as estrelas na verdade é permitir que elas se revelem; abrir meus sentidos, me interessar, acalmar, calar. Só desta forma, aquilo que muitos descobriram e contaram pôde ser descoberto por mim, só a partir da minha quietude. Se eu não fizesse isso, eu poderia ter o conhecimento, uma vez que está em qualquer informativo astronômico, mas eu não reconheceria, não saberia reconhecê-las no céu, nem poderia seguir seus movimentos e perceber suas diferentes intensidades de brilho ao longo do tempo.

Da mesma forma, encontrar as pessoas é ter a possibilidade de realizar esta abertura, esta aproximação, desta forma permitindo que o que está além dos informativos anatômicos e psíquicos se revele: as peculiaridades, as individualidades. Caso contrário, corremos o risco de nos fecharmos e perdermos o reconhecimento das diversas intensidades de brilho que há em cada pessoa, com suas individuais gradações para cada momento e para cada movimento.

Eu considero que minha profissão me dá o privilégio de me colocar constantemente frente a frente com as pessoas – em oposição -, mas com a responsabilidade de ter e me manter numa disposição básica de abertura, o que me proporciona a dádiva de receber a revelação do que cada um tem de mais sagrado: sua própria biografia. Neste momento eu me sinto reverentemente agraciada, porque, assim como com os astros, não sou eu que desvendo os mistérios de meus clientes, são eles que os revelam ao sentirem que me coloco aberta em profundo interesse e disponibilidade para o que eles estiverem prontos a revelar.

Sim, essa é uma particularidade da profissão. É possível que nós que escolhemos este tipo de prática já tenhamos uma vontade de realizar esta forma de encontro, mas o aprendizado e o exercício nos ajudam muito, no entanto, realizar encontros deste tipo não é uma exclusividade nossa. Todos podem escolher se colocar nesta disposição de abertura e realizar encontros de aproximação e descoberta. Muitas vezes é difícil, especialmente se não temos o hábito, mas é como decidir conhecer o céu: começamos sem entender nada, achando que nunca vamos conseguir, mas temos que perseverar e encontrar um pequeno detalhe do outro que nos interesse e nos concentrarmos nele, deixar este pormenor se revelar. Aos poucos este pequeno detalhe nos vai levando para outros e, quando menos esperamos, a pessoa como um todo pode começar a mostrar seu brilho de Via Láctea. Vamos encontrar estrelas?

Via-Láctea

XIII

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo

Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,

Que, para ouvi-las, muita vez desperto

E abro as janelas, pálido de espanto…

E conversamos toda a noite, enquanto

A via-láctea, como um pálio aberto,

Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,

Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!

Que conversas com elas? Que sentido

Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!

Pois só quem ama pode ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender estrelas”.

Olavo Bilac


Aproveite para ler: Biografia é a escrita da vida. Como você está escrevendo a sua?


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Alexandra Mettrau Guedes
Alexandra Mettrau Guedes
Aconselhadora Biográfica, Psicóloga, Artista Plástica, Formadora de Adultos e Consultora em desenvolvimento humano fundamentada pela Pedagogia Social Antroposófica. “Precisamos evoluir em direção a uma vida com significado e a fazer da nossa própria biografia uma obra de arte que seja a expressão desta autoconsciência responsável” Saiba mais sobre Alexandra
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