Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança…
A criança vive a liberdade de expressão, a criação, literalmente o brincar livre. O movimento da criança é na direção do desenvolvimento do Corpo Físico, vivendo no mundo dos sonhos e da mais pura fantasia.
Uma caixa de sapato vazia se transforma no seu caminhãozinho, assim como uma roda velha de um carrinho se transforma em um Carrossel da Roda Gigante. Então se nós adultos disponibilizarmos outros recursos (colher de pau, panela vazia, pedra, botões, sementes, folha seca , tampinha de garrafa), ela poderá exercitar a sua fantasia e conseguir traduzir na suas brincadeiras o seu mundo interno.
Minha infância foi recheada de experiências inesquecíveis nesta direção. Sou a décima de doze filhos, morava no interior de Minas Gerais, em uma casa com um enorme quintal, onde vivenciei ali meus primeiros e maiores aprendizados junto dos meus irmãos e da meninada da minha rua.
Como toda família numerosa aprendi a compartilhar, a escutar, a abrir mão do meu ponto de vista, a esperar a minha vez e socializar toda e qualquer fruta que chegasse em casa, até mesmo as frutas do quintal, a dividir o bife em 4, as vezes até em mais.
A noite era o momento privilegiado em que meus pais reuniam a meninada depois das brincadeiras na porta de casa. Então as noites eram regadas da oração do terço e de muitas histórias, histórias de heróis, santos, enfim de grandes homens e mulheres da humanidade. Nas minhas fantasias alimentava muitos sonhos para quando eu crescesse. Plantava no meu coração o desejo de fazer o mundo mais colorido, sempre imaginava uma roda enorme de crianças do mundo inteiro brincando juntas tipo as rodas que fazíamos nas nossas brincadeiras.
Dormia com este sonho, de um dia torná-lo realidade. Acreditava que se crescesse rápido este sonho poderia acontecer. Depois de adulta tive a oportunidade de ouvir uma história contada por uma grande contadora de histórias, que me fez recordar dos meus sonhos de criança, que compartilho com vocês.
O maior sonho de Pedro era crescer bem rápido.
Um dia, aguardava ansioso por sua amiga Lisa. Era hora de ir para a escola e o sol brilhava indicando meio-dia.
Como Lisa estava atrasada, Pedro resolveu assentar-se embaixo de uma árvore para descansar. Foi quando apareceu uma senhora, trazendo nas mãos um fio dourado. Ela disse:
-Pedro, eu sei que você tem um sonho e vou ajudá-lo a realizar esse sonho. Pegue este fio mágico e sempre que você sentir vontade de crescer é só puxá-lo um pouquinho, assim, sua vida irá passar mais rápido. Mas cuidado, pois um puxão mais forte poderá ser o fim de sua vida.
Pedro ficou muito assustado, porém pegou o fio com cuidado e colocou-o no bolso.
Lisa chegou e Pedro olhou para ela. Como gostava dela… Que vontade de se casar com ela… Pedro pegou o fio mágico e puxou-o. Logo estava um rapaz e casou-se com Lisa.
E o tempo passou. Pedro quis filhos, mas demorava muito para eles crescerem. Ele puxou novamente o fio, seus filhos cresceram, porém ele não percebeu o quanto envelhecia. Sua mãe havia morrido e Lisa estava doente.
Pedro arrependeu-se de sua pressa e chorou muito, pedindo que o tempo voltasse atrás e que sua vida fosse tranquila como antes.
De repente, uma folhinha cai da árvore em sua cabeça e Pedro acorda. Tudo não passou de um sonho.
Se morder a manga verde no pé, ela apodrece e cai sem poder saboreá-la. Assim como a borboleta só vira borboleta quando ela está pronta e preparada para alçar o seu primeiro voo. Hoje na maturidade olho para minha vida de criança e desfruto cada aprendizado e me delicio com as inúmeras lembranças. Adoro uma frase de Shakespere que diz:
Crianças só tem uma infância, roube-as dela e elas a terão perdido para sempre.
Clique aqui para ler ou ouvir outros textos de Maria Antônia
Cadastre abaixo o seu e-mail e
receba os destaques do nCiclos