Memórias de uma Moça Bem-Comportada é o primeiro dos quatro volumes autobiográficos escritos por Simone de Beauvoir. Encanta a riqueza de detalhes com que descreve a própria infância. Ela sabia ser limitada nos conhecimentos e nas possibilidades, quando criança, mas não permitia que isso a deixasse de se considerar uma pessoa de verdade. Relata um conhecimento imenso do que chamava de foro íntimo e conta como se irritava com facilidade quando a tratavam de forma paternalista, agindo de acordo. Aos cinco anos, prometeu a si mesma, e acredito que tenha cumprido, que cresceria sem se permitir esquecer que crianças são indivíduos completos, capazes de se conhecerem e saberem o que se passa dentro delas e, com isso, estabelecer limites.
Hannah Arendt, outra mulher extraordinária, acreditava que a vida interior é valiosa por ser individual, única, capaz de se desenvolver e atingir plena realização do seu potencial. A compreensão de nós mesmos cria algo novo, transformador, e nos torna aquilo que nós próprios entendemos ser.
Como ser humano significa necessariamente sermos no mundo, ao nos tornarmos pessoas plenas e conscientes, contribuímos para uma realidade melhor de vida para todos, não somente para nós.
Goethe, no Sofrimento do Jovem Werther, nos diz que, quando faltamos a nós próprios, tudo nos falta. Quando tudo nos falta, nada temos a oferecer.
Martin Luther King acreditava no amor como algo forte que, quando bem organizado, poderia se transformar em uma ação direta poderosa. Dizia que temos o dever de sermos livres e eu acredito, sinceramente, que essa liberdade plena exige autoconhecimento, uma visão crítica de si mesmo e da realidade. Amar, também.
Simone de Beauvoir, Hannah Arendt, Goethe, Martin Luther King – turma pesada que eu trouxe aqui. Essas pessoas – e outras tantas – pensaram o mundo, mudaram o mundo e mudam o meu mundo a cada contato que tenho com os escritos e testemunhos que deixaram. Todos eles, de uma forma ou outra, nos mostram que a vida acontece de dentro para fora. Pelo menos, o melhor dela.
Olhar para dentro é dar início a uma jornada pessoal importantíssima, bastante delicada. James Baldwin, outra cabeça fantástica, dizia que você nunca sabe o que irá descobrir em uma jornada, o que irá fazer com o que encontrar, e o que você encontrar irá fazer com você. A proposta desse portal é nos ajudar nessa jornada, nos ajudar a sermos testemunhas plenas, amorosas, livres e conscientes de nossa própria existência.
Desejo muito sucesso ao portal. Qualquer movimento no sentido de tornar o mundo um lugar melhor, é válida e benvinda. Foi o que essa turma toda, que eu trouxe para o meu texto, fez.
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