Já amei muitas pessoas. Muitas delas ainda amo, outras tiveram data certa e passaram. Tem gente que não lembro o nome. Outras lembro do perfume, da música, do jeito de olhar, do sorriso, do brilho ou da tristeza. Lembro de como foi passar pela minha vida, ou da minha na delas. Lembro como se fosse ontem, como se fosse agora há pouco. A memória é uma sensação. Lembrar é como viver de novo. E é novo de fato, porque o que se vive uma vez é uma coisa, mas viver na lembrança é outra vida. Tudo pode ser melhor ou pior. Tudo pode ser recontado diferente, mais lindo ou mais feio.
Eu prefiro lembrar o que é lindo. Do que me traz um sorriso espontâneo e instantâneo no rosto e nos olhos. O cheiro que remete a uma emoção, a foto que recorda uma ação, a música que lembra uma atitude. Tantas coisas que já fiz e deixei de fazer. Tantas pessoas com quem compartilhei emoções.
Acho que estou nostálgica. Deve ser a época do ano. Aniversários, meio do ano, a vida que passa pelo fio do horizonte. Consigo ver o sol se pôr em mares que já fui, em montanhas que já passei e na fronte de quem fica por mais que o tempo passe.
Gosto da vida que vivo hoje, sem detrimento do que já vivi. Já me arrependi do que não fiz e me critiquei do que fiz por fazer. Mas do que fiz porque acreditei, errado ou não, não me arrependo. Não me arrependo das dores que causei em mim, em outrem, daquilo que não tinha consciência. Já quis ser perfeita, já quis não errar nunca. Mas hoje não. Hoje aceito o que sou e fui. Aceito meus enganos, desenganos, desencontros. Podia ter chegado mais cedo, podia ter ido embora. Podia ter esperado mais ou podia ter esquecido. Mas não fiz. Quem eu era agia assim.
Tudo que fiz ou deixei de fazer me fizeram quem sou hoje. E quem sou me alegra, me deixa feliz só porque sou eu. Eu, que já fui tão triste, que já fui tímida, que já fui inteligente como forma de me disfarçar. Tenho prazer em ser o que sou. Até quando hesito não me irrito como outrora. A vida vale pelo que vivemos e não pelo que queremos, apenas. Vale pelo que sonhamos e não pelo que realizamos. Vale pelo que dá coragem não pelo que dá medo. E tive muito medo tantas vezes. Medo de viver foi meu último medo. Mas passou. Doeu, deixou marcas, mas passou.
Ter medo de viver é pior que ter medo de morrer. Morrer é simples. Viver é complexo. Viver tem decisões, tem ambiguidades, tem acertar ou errar. E dá para errar 99 vezes e acertar apenas 1, assim mesmo viver é melhor que sonhar. Com tudo que pode ser cavar um buraco para fazer um castelo ou para se enterrar.
Amei e amo. Não tem nada que valha mais a pena do que amar sem medo. Sem susto. E eu amei muitas pessoas e amo ainda. A vida vale pelos amores que se vive. No plural ou singular.
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