O que nos impede de sermos mais, de sermos infinitos?

adiar, tempo
Procrastinar, adiar, deixar para depois… Por quê?
25 de outubro de 2018
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O que nos impede de sermos mais, de sermos infinitos?

Infinito, céu, subir

Não sei bem se foi um sonho ou uma lembrança, mas tenho a nítida impressão de ter vivido esta história.

Num lugar que não lembro onde, mas parecia uma escola onde algo muito importante estava acontecendo: um campeonato, olimpíadas, copa do mundo ou o fim de uma batalha.

Uma menina acompanhava os acontecimentos. Ela se escondia e tentava ajudar seu irmão. Ela se escondia, mas não havia problema em ser vista, apenas não queria ser vista. Estava concentrada em acompanhar os acontecimentos.

Veio até ela um rapaz, um conhecido, mas alguém muito discreto, que não fazia amizades facilmente. Eles começaram a conversar e ele passou a acompanhar os acontecimentos junto com ela e a ajudá-la no que ela precisava. Destes momentos uma amizade foi nascendo. No final deste dia a batalha foi vencida e a menina conseguiu ajudar seu irmão.

A partir daí, a menina e o rapaz começaram a fazer tudo juntos, se encontravam para começar o dia e fazer o que tinham que fazer juntos. Sempre ao ar livre, sempre juntos, amigos, companheiros.

Num determinado momento compreenderam que se amavam e que sempre haviam se amado. Não um amor daqueles cheios de paixão e fúria, daqueles que não se consegue nem pensar, mas um amor profundo, um amor com raízes muito profundas, muito antigas, além da compreensão. Um amor que se evidenciava no olhar, no companheirismo, no sentimento de que tudo faz sentido, de que juntos faziam parte de algo muito maior, muito além deles próprios. Um sentimento de união, de infinitude.

E aconteceu o primeiro beijo

Deste sentimento surgiu o desejo. Desejo de se mesclarem, de se unirem, de serem um só, mesmo sendo dois. E aconteceu o primeiro beijo. Um beijo tranquilo, calmo, um beijo que matava uma saudade, que abraçava o amor, que acalentava o desejo, um desejo que não tinha pressa, tinha todo tempo do mundo, era mais antigo do que o mundo, mas tinha todo o tempo do mundo para se saciar. E que levaria uma vida inteira se saciando e se acendendo.

O amor, o desejo, a saudade, o encontro, o companheirismo. A vida para viver juntos, para lutarem suas batalhas, crescerem, aprenderem, realizarem e se amarem, se infinitarem. Tornarem-se infinitos porque dois, porque juntos, porque unos.

Acordei. Lembrei de tudo, lembrei do sonho, das paisagens do sonho, da menina e de seu rapaz. Lembrei de mim mesma, de meus desejos, de minha história, de meu amor. Pensei que aquela história me chegou linda, completa, pronta e bastava escrevê-la. Pensei no processo criativo de alguns escritores, que contam que muitas de suas histórias chegaram completas em sonhos, como se tivessem sido dadas. Pensei no processo criativo de artistas, músicos, pensei na inspiração. Quantas não devem ser as formas de inspiração que originam as obras artísticas, musicais, literárias! Decidi escrever. Mais uma vez decidi escrever. Escrever um conto, escrever um livro, escrever.

Meus afazeres diários

Levantei, cuidei da casa, discuti, lembrei de meus afazeres diários e não escrevi. Saí, fui cuidar do que tinha que cuidar, fui fazer o que tinha que fazer e não escrevi o que tinha que escrever.

Fim do dia. Lembranças nebulosas do que fora um sonho, uma lembrança, lembrança de uma resolução de escrever. Uma frustração de não ter escrito, outra de não ter realizado algumas tarefas pendentes.

Como estamos sujeitos às nossas próprias sabotagens, aos nossos próprios medos paralisantes. O que somos e o que deixamos de ser por nossa própria vontade ou falta dela?!

Quem ou o que nos impede de sermos mais, de sermos além, de sermos infinitos?

Qual é a história de mim mesma que eu quero me contar? Quem eu fui, quem eu sou e quem eu serei que eu ainda não me disse? Ou que eu ainda não me ouvi?

Então, aqui começa a minha história. Ou melhor, aqui eu me conto a minha história. E eu me ouço.

Rio de Janeiro, 06 de julho de 2010.

Este texto foi escrito em 2010 e eu nem me lembrava. Hoje, ao lê-lo, decidi publicá-lo, percebi que muita coisa aconteceu depois deste texto, ou melhor, a partir dele.

O que aconteceu alguns anos depois deste sonho que eu nem lembrava mais? Aqui estou, escrevendo para este Portal, escrevendo minhas aulas e, principalmente: ajudando muita gente a se contar sua própria história e, se ouvindo, decidir e escrever as próximas linhas que quer viver.

E, com esta minha memória, hoje tão doce, mas que já foi um pouco amarga, convido cada um a se contar sua própria história e a ouvi-la, com ouvidos de ouvir, com uma escuta atenta e amorosa, uma escuta que talvez traga dores, mas que não julga, apenas ouve. Uma escuta para aprendermos cada vez mais de nós mesmos para podermos ser cada vez mais infinitos.


Aproveite para ler: Biografia é a escrita da vida. Como você está escrevendo a sua?


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Alexandra Mettrau Guedes
Alexandra Mettrau Guedes
Aconselhadora Biográfica, Psicóloga, Artista Plástica, Formadora de Adultos e Consultora em desenvolvimento humano fundamentada pela Pedagogia Social Antroposófica. “Precisamos evoluir em direção a uma vida com significado e a fazer da nossa própria biografia uma obra de arte que seja a expressão desta autoconsciência responsável” Saiba mais sobre Alexandra
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