Para a inauguração do portal nCiclos eu tinha pensado em escrever sobre a Antroposofia: algo relacionado às aulas que ministro nas formações biográficas ou sobre as Festas Cristãs, temas com os quais convivo para preparar meus trabalhos. No entanto, ontem eu acordei com este tema do “Encontro com o Outro”, que é a base da metodologia biográfica com a qual trabalho, e senti a necessidade de me apresentar aqui no portal com esse assunto, que fala muito de mim e de minha busca pessoal e profissional.
Nos workshops biográficos e nas vivências da formação em Aconselhamento Biográfico sempre trabalhamos em grupo, ou melhor, sempre reservamos um espaço para o compartilhamento das histórias de vida de cada um. O que acontece nesses momentos é justamente esse encontro, esse despertar para o outro. Ao começarem a escutar as biografias dos demais, as pessoas, embora não se conheçam, não tenham afinidades e talvez nem estejam disponíveis para olhar para o outro – pois vieram para olhar para sua própria história, suas dores e seus aprendizados –, entram em contato com o inesperado, que se revela em uma forte dor, uma grande resiliência ou uma doçura inesperada, que tanto podem ser totalmente novas, desconhecidas e inimagináveis, quanto familiares, próximas e surpreendentemente parecidas com fatos de sua própria história.
Isso pouco a pouco nos coloca em um estado de escuta, num interesse amoroso livre de julgamento, pois vemos as pessoas que compartilham conosco para além dos fatos que as trouxeram e nos tornamos capazes de ver que cada um tem uma biografia; uma origem; uma história que faz com que cada ato e cada situação sejam vividos e percebidos de forma única Mesmo imaginando que nossas escolhas seriam diferentes nas mesmas situações, compreendemos que estas nunca são as mesmas, pois, ainda que os fatos externos sejam iguais, cada um tem um background único, e isso faz com que cada vivência tenha um tom individual e particular.
Isso também, de uma forma extremamente surpreendente e calorosa, nos coloca em contato com nosso próprio interior, nos ajuda a olhar para dentro de nós mesmos, pois aprendemos que há outras formas de encarar e solucionar as situações; vemos que nossa dor não é a única e nem a maior ou mais importante do mundo, e também que as alegrias e os aprendizados compartilhados podem se tornar bálsamos que ajudam a curar ou amenizar os sofrimentos próprios e alheios.
Forma-se, assim, uma comunidade, que mesmo existindo apenas naquele espaço e naquele tempo, é uma comunidade de cura, aprendizado, compreensão, consciência e autoconsciência, liberdade e calor. Portanto, o encontro com o outro se torna a chave para o encontro consigo próprio, o encontro com o EU.
Neste nosso primeiro encontro aqui no portal eu quis trazer esta percepção que me é tão cara, e quero, a partir desta perspectiva, tentar fazer deste espaço um local onde possamos exercitar tais características. Vamos tentar?
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