O comércio nos estimulas conforme as datas festivas do ano. Queiramos ou não, toda a decoração e ambiente são formados conforme o tema que a data sugere. As mídias nos invadem por todas as telas e as ruas ficam caracterizadas pela ditadura das datas comerciais. Tudo já está tão internalizado que passam a ser aceitas como datas comerciais, sendo que sua origem não tem nada que ver com o comércio.
Sim, isso não é novidade para ninguém. O comércio se apropriou das datas, e quiçá de nós também. Apenas um piscar de olhos e todo esse frenesi nos consome. Nessa conjuntura, passado o dia das crianças, começa o Natal. 13 de outubro inicia o Natal. Com dois meses e onze dias de antecedência o Natal está posto. Ou seria melhor dizer imposto? Basta sair de casa, ou ligar qualquer telinha, para estar submetido a essa ditadura.
Mas o que será que nos une nessa época? Como alimentar outra relação, consigo mesmo, com o outro e com o mundo, nesse período de histeria coletiva? Tenho minhas estratégias pessoais para tentar seguir na contramão desse fluxo externo. Mas confesso que nem sempre eu consigo.
Tenho uma sensação que esse tal fluxo externo é contraponto a um fluxo interno e do mesmo modo coletivo. Parece que todo esse alvoroço fora quer calar uma renovação que é também coletiva. Independente das escolhas religiosas, um tempo propício para o convívio com o sagrado se apresenta para os que estão atentos a essa frequência interna. A renovação de uma verdadeira empatia é colocada comercialmente como uma superficial simpatia. E deste modo estamos a perigo de distribuir caixinhas de bombom ou deliciosos panetones como exercício distorcido desse tempo sagrado.
Na minha memória de infância guardo toda essa construção para o dia de Natal propriamente dito. Passo a passo, sem pausa, nem pressa. No primeiro dia de dezembro tudo começava a se preparar para receber o “Bom Velhinho” e tudo o mais que Ele traz consigo. A intensidade ia num crescente até a noite do dia 24. Um grande exercício de construção da sacralidade, de espera, do cultivo da beleza. Vale salientar que beleza e glamour aqui se separam, e dão lugar ao cultivo da simplicidade e do cuidado. Beleza e glamour se separam, sob o meu ponto de vista, para que euforia (EU-FORIA) instalada no entorno possa silenciar e um novo Eu (re)nascer.
Quando criança, vivia com o mar e era ele quem trazia o Natal e todo o seu encanto. Agora convivo com as montanhas e por isso tenho um horizonte diferente. Ano passado, por viver aqui, tive uma montanha inteira como árvore de natal gigante…. com vaga-lumes fazendo vezes de pisca-pisca! A renovação do silêncio, a cada pausa dada pela orquestra que habita a mata, se faz presente. E o desafio da contemplação está posto.
Apesar do mundo em que estamos todos inseridos, tenho interesse em perpetuar um Natal sagrado. E como utopia, desejo um Natal cotidiano, 365 Natais por ano. E que venha 2018, com todos os Natais que eu seja capaz de (re)conhecer e celebrar.
Gostou do texto? Então leia também os conteúdos da Campanha Pratique Empatia
Cadastre abaixo o seu e-mail e
receba os destaques do nCiclos