Maria é uma mulher bonita, saudável e aparenta ser bem mais jovem do que a sua idade cronológica, 53 anos. Casada, mãe de três filhos, todos formados e autossustentáveis, Maria tem uma vida tranquila. Mora em um apartamento confortável, em um prédio de luxo, que ela comprou com o fruto do seu trabalho. Tem um carro novo e uma reserva técnica para passeios e ou emergências. Maria sempre foi muito boa em planejamento. Na faculdade, suas melhores notas eram nas disciplinas relacionadas ao planejamento e gestão.
Sempre dedicada, comprometida e engajada Maria construiu uma carreira profissional sólida e bem estruturada. Passou por algumas empresas, mas nos últimos vinte anos ela se acomodou em uma grande organização. Maria amava o seu trabalho, era respeitada e admirada pelos superiores e colegas de trabalho. Tinha muito orgulho da organização e com isso não sentia o tempo passando.
Apesar da sua capacidade produtiva, da sua mente brilhante e da sua experiência um dia aconteceu o inesperado. Aliás, o esperado por todos, menos por Maria, que não percebia as mudanças, muito menos, que ela também seria atingida pelas propostas de renovação, oxigenação do capital humano ou reestruturação organizacional. Em uma bela manhã de uma sexta-feira, Maria foi convidada a se desligar da organização, com o argumento de que a empresa atravessava um período de crise e teria de reduzir o quadro de colaboradores.
Maria se desesperou. Não somente pelo ponto de vista financeiro, mas principalmente porque era nova demais para se aposentar e velha para recomeçar no mercado de trabalho. Pois, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2014), a expectativa de vida da mulher brasileira é de 78,6 anos. Além do mais, apesar da sua aparente estabilidade, ela não esperava parar de trabalhar tão cedo. Seu custo fixo era alto e para manter seu padrão de vida precisa conseguir completar sua renda com outro trabalho.
Passado o desespero Maria procurou os amigos para pedir ajuda e se confrontou com a seguinte situação: fazer o quê? O que ela fazia era específico daquela organização? Possuía amigos em outras áreas e em outras empresas? Havia se preparado para as mudanças que fatalmente iriam acontecer? O pior, apesar da sua inteligência, da sua capacidade de planejamento e gestão; do seu preparo acadêmico, Maria não havia realizado uma transição de carreira. Claro, algum tempo atrás permanecer na mesma empresa e construir uma única carreira eram valor para o mercado de trabalho, diferentemente dos dias atuais, que exige mais dinamismo e adaptabilidade.
Sabemos que deixar de exercer uma atividade na qual já se tem experiência e conhecimento para buscar outras oportunidades sempre dá um friozinho na barriga. Um medo de não dar certo. Afinal, deixar um espaço organizacional, onde tudo está estruturado e recomeçar uma nova carreira, em um novo universo, após os cinquenta anos de idade, acaba gerando certa angústia. Porém, as mudanças são essenciais. Elas dão um novo sentido à vida. Oferecem novos caminhos, novas possibilidades e nos tira da zona de conforto. Óbvio, que não é fácil para ninguém, independente da idade.
O ideal para minimizar a angústia é fazer a transição de carreira ao longo da vida profissional. Isto é, descobrir o que você realmente gosta e sabe fazer bem feito. Neste caso, identificar sua melhor habilidade, transformá-la em sua maior competência, ou seja, no seu diferencial competitivo. E, paralelo ao seu trabalho ir exercendo a sua nova atividade, em horários diferenciados. Muitas vezes, até nos finais de semana. Seja como empreendedor, profissional autônomo, professor, consultor etc. O importante é saber utilizar o seu know-how e aplicar a sua experiência em outras atividades. Esta nova perspectiva, sem dúvida alguma, será valorizada pelas gerações Y e Z, que cresceram socialmente conscientes.
A diferença é que cada geração tem o seu diferencial. Esquecendo os estereótipos, os jovens, normalmente, são muito conectados, ágeis, entusiasmados e estimulados a desenvolver competências fundamentadas em um grande volume de informação. A idade lhes permite arriscar mais. Já na meia idade os riscos devem ser calculados. Pois, não há mais tempo para repetir a experiência. Dificilmente alguém completa 50 anos duas vezes, ou seja, 100 anos, com a mesma disposição. Em compensação tem como diferencial o esforço colaborativo da sabedoria, do engajamento e a soma das competências, fazendo a interface da formação acadêmica com a experiência organizacional. A bagagem adquirida ao longo da vida oferece instrumentos para uma releitura dos fatos, criando um melhor entendimento e talvez maior adaptação e reconstrução da nova realidade.
Estes quesitos permitem o alcance de resultados mais rápidos. Isto pode levar a uma falsa impressão de que as mudanças radicais para os profissionais seniores são mais fáceis. Não é verdade. Recomeçar é sempre um desafio, como diz a canção escrita por Ivan Lins e Vítor Martins e interpretada pela Simone: “Começar de novo e contar comigo, vai valer a pena ter amanhecido…”
Passado a angustia e o susto Maria reaprendeu a trabalhar as perdas. Perdas de relações pessoais, do status quo, etc. e descobriu que a mudança não era um fim, mas um começo — uma oportunidade de se envolver em atividades que realmente gostava de fazer, experimentar, explorar e se reinventar.
E você, conhece alguma história parecida com a da Maria? Independente da sua idade, já pensou em fazer a sua transição de carreira? Deixe seu comentário no espaço “participe da discussão”, logo abaixo da página. Compartilhe suas experiências e sua opinião conosco. Adoro ler o seu comentário.
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