É fato. Vivemos a era da colaboração. Ou da cooperação, como queiram chamar.
Ouvi de uma amiga outro dia que ela se acha uma mulher de muita sorte por fazer parte desse momento da história. Eu também.
Eu sei que existem diferenças conceituais entre essas duas palavras – colaboração e cooperação – mas pra mim elas trazem à tona uma mesma sensação: a de completude. Acredito que não há outro caminho para uma vida plena que não passe pela vida conjunta, da interdependência.
Vida plena e colaboração têm tudo a ver, são lados de uma mesma moeda. Elas resgatam nossa essência, nossa ancestralidade. No início, o que fazíamos era inseparável de quem éramos. E, também nesse início, tribos, comunidades inteiras viviam e sobreviviam por meio de processos colaborativos.
Infelizmente, fomos nos distanciando desses aspectos – plenitude e cooperação – à medida em que ficamos grandes demais, desenvolvidos demais, tecnológicos demais; agora muitos de nós temos buscado fazer o caminho de volta.
Agora vivemos novos tempos. Tempos em que qualidade de vida não está mais somente no ter coisas. Está em ter tempo.
Taí. Hoje queremos tempo, realização e felicidade. Será que estamos querendo demais? É possível?
Sim, é. Mas, por favor, me entendam. Eu disse que é possível. Isso necessariamente não significa que é fácil.
Viver a vida em plenitude é estar inteiro, sentir-se completo, no seu grau máximo, na sua maior potência. É estar integralmente disposto a se entregar à vida, aos seus desafios e conquistas. É encontrar um trabalho que tenha significado para você. É se permitir ser visto como verdadeiramente se é, a partir da sua essência. É se realizar pessoal e profissionalmente a partir dessa essência.
Precisamos admitir: conceituar é sempre mais fácil do que praticar… Nos mostrarmos com nossas imperfeições e medos, em um mundo que cultua a perfeição e o sucesso, é difícil pra caramba!
Além disso, a busca da integralidade pressupõe tempo (olha ele aí de novo). Tempo para meditar, mergulhar no autoconhecimento, reconhecer-se em seus talentos e competências, planejar. Pressupõe recalcular a rota, pensar no melhor e no pior, se arriscar (com ou sem capacete, você escolhe). Pressupõe escolher. Entre o ir e o ficar, entre o mudar e o permanecer, entre o largar e o segurar.
(Se você já está vivendo sua vida plena, sabe bem o que estou falando. E se quiser, pode até parar de ler esse artigo aqui mesmo. Mas caso ainda esteja no meio da estrada, continue lendo…)
Como se já não fosse desafiador o bastante encontrar essa plenitude, tem mais: a gente não consegue fazer essa jornada da autenticidade sozinhos. Ela nasce na consciência do nosso eu interior, mas se concretiza na relação com o outro.
Porque não vivemos sozinhos. Porque somos seres interdependentes. Porque sabemos que, ao nos mostrarmos como realmente somos, e agirmos com nossa mais profunda coragem, outras pessoas serão afetadas (não necessariamente de uma maneira ruim, mas serão afetadas). E principalmente porque, em busca da nossa integralidade, vamos precisar da ajuda do outro. O tempo todo.
Sua voz interna pode estar dizendo agora: “ixi… quero essa tal de vida plena, mas preciso pedir ajuda mesmo?” Sim. Precisa!
E é aí que entra a tal da colaboração. Nesse momento não vou falar dos conceitos de economia colaborativa, da governança colaborativa presente em empresas inovadoras, de compartilhamento, crowdfunding, economia do dom, de espaços bacanas de co-working, prevalência do uso sobre a posse, diferença entre preço e valor, relação peer-to-peer… vamos ter outras oportunidades para isso.
A colaboração que quero trazer aqui é o “primeiro estágio”. Diz respeito a você. E ao outro mais próximo de você. Começa no seu micro-cosmos.
Para realizar seu potencial máximo, sua melhor versão, você precisa de ajuda. Para passos grandes ou passos pequenos. Para se organizar. Para se lançar em um empreendimento novo. Para cuidar da casa. Para devolver sua coragem. Para compartilhar seus medos. Para ficar com as crianças. Para segurar alguma barra. Para dar uma carona. Para celebrar.
Agora, por um instante, pare e pense em algum outro próximo. E, pelos próximos segundos, pense que ele também quer realizar-se, e experimentar a tal da vida plena. Ele também precisa de ajuda. Precisa que colaborem com ele.
Pedir ajuda. Oferecer ajuda. Esse é o equilíbrio sistêmico. Equilíbrio entre o dar e o receber.
Como está a colaboração na sua vida?
Vamos fazer um simples exercício prático e você vai entender melhor. Pegue um pedaço de papel e um lápis. Faça duas colunas. Na primeira, coloque QUEM EU AJUDO. E, na outra, QUEM ME AJUDA. Pense em tudo: na vida pessoal, no trabalho, na família, no prédio, no bairro, na escola… Vamos lá, não economize nessa lista.
Feito isso, respire e comece a preenchê-la. Pronto? Como ficou? Sinceramente… está equilibrada?
Quando digo equilibrada, me entenda: os nomes das duas listas não têm que ser os mesmos. Necessariamente, se você colabora com sua irmã, ela não precisa estar na segunda coluna, como alguém que colabora com você. Não são os nomes que importam aqui.
Para o equilíbrio sistêmico do universo colaborativo, as listas precisam estar quantitativamente equilibradas. E você tem um papel imprescindível para fazer isso acontecer.
Isso mesmo. Muitas religiões e culturas ao redor do mundo têm ditados e máximas como “dê e você receberá”. Você certamente já ouviu algo desse tipo. Nada contra eles, mas muitos não ajudam em nada a desenvolvermos nosso protagonismo, porque várias vezes esperamos sentados por essa ajuda, que parece estar vindo de trem. Precisamos levantar dessa poltrona. Refletir. Colaborar. Pedir socorro. Aceitar coisas. Permitir que o Universo se equilibre.
Martin Luther King tem uma frase que me emociona: “todos os homens estão presos a uma inescapável rede de mutualidade, atados numa única veste do destino. O que afeta diretamente um, afeta indiretamente a todos. Eu nunca poderei ser o que deveria ser até que você seja o que deveria ser. E você nunca poderá ser o que deveria ser até que eu seja o que deveria ser.”
Agora talvez você esteja diante de um problema. Ou, como gosto de pensar, do início de uma solução. O que você precisa fazer para que essa lista seja mais harmônica? Que ajuste tem que realizar para que sua vida seja mais colaborativa, e que lhe possibilite exercer sua vida plena, para que você possa ser tudo o que deveria ser? Pedir mais ajuda? Ajudar mais? Aceitar mais ajuda?
Não perca a chance de experimentar essa travessia para uma vida integral, conectada e colaborativa. E, se você quiser compartilhar suas certezas e incertezas, escreve pra mim, lu@amadoria.com.br.
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