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Quantas versões de nós mesmos é possível encontrar?

Nós mesmos, versões

Carnaval já acabou, o ano começou e já estamos em março! E agora, como seguiremos em 2018? O que oferecemos para vida? O que a vida nos oferece? O que está por vir ninguém sabe, mas podemos ampliar nossas capacidades e abrir novas possibilidades para nós mesmos.

Para além de todas as festas, pausas e férias, seguimos nossa vida desenvolvendo papéis. O papel da mãe/pai, do profissional (e só aqui temos uma gama infinita de papéis…), da esposa/marido, da filha predileta, do filho mais velho, da única neta, do tio etc. Ocupamos lugares que nos solicitam determinadas capacidades e posturas. Usufruímos de todos os benefícios que cada papel contém e lidamos com os desafios que isso inclui.

A experimentação de novos papéis como ampliação de nós mesmos

Todos os dias acordamos e dormimos, ou dormimos e acordamos. Morremos e renascemos. A cada noite algo morre. A cada dia algo nasce. Pensando no Carnaval, para além de toda qualidade cultural que essa festa traz, reflitamos sobre a grande oportunidade que nos é dada de experimentar novos papéis. Há os que gostam de brincar o Carnaval, há aqueles que não passam nem perto. Contudo, queremos ir além desse gosto pessoal, cheio de motivos individuais. Ao nos fantasiarmos, abrimos a possibilidade de uma experimentação de nós mesmos numa nova versão. Esse exercício cheio de metáforas e poesia, que pode ser visto com muita fartura nessa festa brasileira, é também muito benéfico se for levado ao longo de todo o ano. E, é claro, que não é preciso necessariamente nos enchermos de adereços externos para experimentarmos novas versões de nós mesmos!

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Como o mundo se relaciona conosco quando estamos em determinado papel? E nós, como agimos/reagimos ao mundo de um determinado lugar? Podemos pensar que “estamos satisfeitas onde estamos e como somos”, “não queremos ou não precisamos mudar em nada”. Sim, isso pode ser verdade no momento, no agora. Todavia, o que o futuro nos reserva será sempre um mistério. E, nesse sentido, o desapego a uma única versão de nós mesmos pode ser salutar.

Como incluir o exercício de novos papéis ao longo da vida?

Não existe receita, pois se trata de uma descoberta pessoal. Um pouquinho a cada dia, um passo de cada vez. Na velocidade que cada um dá conta de suportar. Na medida em que isso seja um remédio, sem se tornar um veneno. Ao mesmo tempo que a autotransformação é necessária, para que ela seja sublime, é preciso – antes de tudo – amor com nós mesmos, aceitação de nós mesmos. Não mencionamos um processo de julgamento de nós mesmos e nem do outro. A proposta tem vínculo com a autorrenovação e não com o autoflagelo.


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Podemos abrir este espaço na vida, com muita autonomia, e irmos lentamente fortalecendo as nossas versões de nós mesmos. Isso certamente trará, além de uma maior capacidade social, uma conexão cada vez mais preciosa com o nosso próprio ser. Neste caminho, iniciamos uma autodescoberta continua, onde o fim e o começo são apenas tentativas humanas de nomear algo que é eterno. Ou seja, que existe desde sempre e que acabará no infinito.

Aos que ainda não estão muito familiarizados com esta proposta, mas reconhecem a necessidade em suas próprias vidas, a Dramaterapia está posta para ajudar. Exercícios de reconhecimento e renovação de nós mesmos, com a efemeridade que o teatro traz, servem para engrandecer nossa oferta pessoal. Nós aumentamos nossas oferendas ao mundo e paralelamente exercitamos a presença para recebermos os presentes que a vida nos traz.

Flexibilidade nas posturas assumidas na vida, experimentação de novos pontos de vista, criação de ambientes alternativos, tudo isso pode nos trazer, além de saúde, um equilíbrio vital, um prazer em nos conhecermos mais a cada dia. Ao nos cristalizarmos em determinados papéis, matamos a possibilidade de que uma nova versão de nós mesmos nasça.

Que parte de nós deixamos morrer? Que parte de nós pede para (re)nascermos?

Além de ser apenas uma escolha, estas questões podem se mostrar como uma necessidade em determinados períodos da vida. Convém que estejamos preparados para essa demanda. Caso contrário, a probabilidade de adoecermos, fisicamente ou emocionalmente, é grande.

Já é sabido que muitas de nossas posturas tomamos ou escolhemos de acordo com o que esperam de nós. E isso faz parte da vida…. Em todo caso, é benéfico que isso ocupe apenas uma parte de nós. Enquanto adultos, para termos um mínimo de autonomia na vida, é necessário que desenvolvamos um autoconhecimento suficiente para reconhecermos o que fazemos para “agradarmos” o outro e o que fazemos que tem relação com nossa essência enquanto Seres individuais e únicos. Seres estes que morrem e (re)nascem a cada dia, pensamos. E se realmente for verdade que morremos e renascemos a cada dia, será que isso acontece para que sejamos sempre o mesmo a cada novo dia?


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Lúcia Vernet
Lúcia Vernet
Primeira Dramaterapeuta Antroposófica brasileira, atriz, arteducadora e pedagoga antroposófica. Trabalha com formação de adultos através de processos vinculados a educação, ao teatro e as histórias de vida. Já realizou trabalhos em várias regiões do país, bem como Argentina, Chile, Peru, Bósnia & Hezergovínia, Canadá e China. “Fatos reais ampliados por um olhar reflexivo serão apresentados para que cada leitor possa fazer um processo de reflexão interna a partir da experiência do outro, proporcionando uma comunhão entre a vivência alheia e a sua própria história de vida.” Saiba mais sobre Lúcia
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