Estou sentado em uma cafeteria próxima da Avenida Paulista. Do outro lado da rua, um conceituado hospital. Ainda é cedo, mas o movimento na rua já é considerável. Aos poucos, o espaço é tomado pelos clientes. Gente de idades, estilos, até idiomas diferentes.
Estou aqui porque decidi tomar um café com leite enquanto aguardo o início de uma reunião. Comprei o jornal na banca em frente e estava lendo-o até que me dei conta do contexto. Essa cafeteria mostra exatamente a mesma diversidade atual da sociedade paulistana, com estudantes conectados, jovens descolados, engravatados carregando mochilas com notebooks, alguns estrangeiros com cara de turistas e outros estrangeiros com jeito de “adaptados”, senhoras na melhor idade, e outros tantos tipos representativos de grupos e tribos (particularmente, adoro esse termo; talvez porque me faça lembrar de nossa raiz Tupi).
Percebo que a diversidade também se manifesta nas atividades. Afinal, em uma cafeteria deveria existir um traço comum – o tomar café, certo? Errado! O que menos vejo é gente tomando café…
Há pessoas lendo jornal (os “coroas” amantes do papel, como eu), pessoas olhando e digitando em seus smartphones, duplas conversando animadamente, um sujeito com estilo acadêmico aparentemente trabalhando em seu notebook, um rapaz e uma moça falando em inglês (parece que um deles está dando aula para o outro), e por aí vai…
O fato é que percebo que essa diversidade realmente me instiga, me faz pensar na riqueza humana com a qual convivemos rotineiramente e que muitas vezes fica esquecida, e me renova a certeza sobre as escolhas profissionais que fiz. É incrivelmente desafiador e instigante poder trabalhar com pessoas.
Atuo com o desenvolvimento de pessoas há quase 30 anos, em diferentes contextos, com diferentes faixas etárias e diversos níveis sociais. Uma trajetória que não poucas vezes me inquietou (para não dizer desanimou) em função da deseducação geral de nossa população. Fatos como gente jogando lixo na rua ou quebrando as coisas, falta de respeito e de educação nos deslocamentos urbanos, tentativas de “furar fila”, respostas grosseiras nas conversas rotineiras, apenas para citar exemplos simples que me ocorrem agora. Eu sempre me pergunto, nessas horas, se o ser humano “tem jeito” ou, ao contrário, é um caso perdido.
Nesses momentos de “crise” e questionamento, eu me pego procurando nas pessoas os aspectos fundamentais que justificam nossa existência enquanto espécie, nossa presença no mundo, nosso merecimento por uma natureza tão bela e generosa.
Entre tais aspectos, a capacidade criativa, o ser capaz de reinventar-se, a incrível especificidade dentro da aparente uniformidade, o altruísmo… E, então, noto que os encontro aqui, na cafeteria um tanto agitada, bem paulistana, tipicamente humana.
Que possamos ver e experimentar essa RIQUEZA HUMANA de forma mais marcante no ano que se inicia. E, assim sendo, consigamos crescer enquanto indivíduos e enquanto coletivo.
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