Uma das fases mais complexas, tristes e emocionalmente desgastantes da vida é a altura em que os filhos passam a ter de cuidar dos seus pais. É costume dizer-se que nada nos prepara para sermos pais, que são os filhos que nos ensinam a sermos pais. Mas o que não nos ensinam mesmo é sermos filhos de pais envelhecidos. Queremos salvá-los deles próprios, impedir que o corpo ceda mais rápido que a cabeça, ou que a cabeça ceda mais rápido que o corpo, mas não há como. Nunca ninguém nos preparou para isto, nunca a sociedade se preparou para isto. Falamos em envelhecimento ativo e saudável o tempo todo, mas a grande verdade, é que estamos aprendendo dia após dia esse grande aprendizado. Pais que não queriam envelhecer e filhos que não queriam se deparar com essa dura realidade.
Não temos aqui, mágicas que possam facilitar o seu dia a dia com seus pais envelhecidos, mas segue algumas dicas de pessoas que já passaram por isso e ainda passam. Aprenderam a deixar seus dias mais leves, sem tantas cobranças internas, culpas e tristezas.
Este é o ponto essencial. As coisas mudaram e o caminho faz-se em frente. Quando um pai começa a depender dos filhos, tudo muda radicalmente, e nada do que conhecia ou fazia antigamente se aplica. Os papéis inverteram-se, as metodologias antigas podem não se aplicar. Prepare-se para começar do zero e acima de tudo aceite que assim é, por muito difícil que seja.
Cuidar dos pais numa fase mais dependente é algo que exige calma e discernimento. Não apresse as coisas, porque se não é fácil para si, também não é fácil para eles. Deixe que o processo de cuidar se revele por si próprio. Por muito que controle e lidere o que se passa, siga esse processo e adapte-se naturalmente.
Esta é uma fase emocional imprevisível. Se existem pessoas que no final de vida podem abrir-se emocional e espiritualmente, expressando o amor e carinho que sentem por si, também pode acontecer o contrário, e tornarem-se distantes e frios. Isto pode ser mais evidente ainda em casos de demência. Por isso, não tenha quaisquer expectativas emocionais. Se criar uma ligação emocional e carinhosa maior nesta fase da vida, ótimo! Mas não crie essas expectativas. Lembre-se, tudo muda. Mais vale não esperar nada e ser surpreendido do que ter esperanças e ser arrasado.
Nesta fase os seus pais perdem aquilo que sempre tiveram: autoridade. Essa perda não será fácil para eles, porque para além de ser algo novo, é também um reflexo das suas debilidades. Em casos de demência a agressividade pode ser um comportamento consequente, por isso, espere alguns acessos de raiva.
A máxima que puder. Por um lado, ninguém gosta de se sentir inútil e dependente. Por outro, a preocupação com pais por vezes pode tornar-se excessiva e inibir as pessoas. Dê-lhes o máximo de autonomia possível. Dê sugestões e não ordens, porque é importante eles sentirem que continuam a comandar a vida deles e tomarem as suas próprias decisões. Permita que decidam tudo dentro do possível no que diz respeito aos seus cuidados.
Uma das melhores formas de fazê-los sentir que ainda são importantes para si, de lhes mostrar amor e carinho é continuar a pedir-lhes conselhos no que diz respeito a coisas que se passem na sua vida.
As disfunções emocionais provavelmente serão percebidas facilmente através das suas conversas e interações. Mas as disfunções cognitivas poderão ser novas para si. Aprenda a reconhecê-las, e reaja cuidadosamente. Discuta estas disfunções cognitivas com os cuidadores profissionais, e lembre-se, esta é uma das fases onde é importante levar as coisas com calma.
Não há melhores amigos nesta fase da vida do que aqueles que estão a ajudá-la (o) a cuidar dos seus pais. Seja uma assistente social, uma fisioterapeuta, enfermeira, médico, ou até um vizinho que dê apoio, trate-os todos bem e reconheça a sua importância. É essencial que todos mantenham um ambiente positivo à volta dos seus pais.
Se for solteiro, pode sobrar tudo para si, caso contrário, aproveite a pessoa que ama para dar um melhor apoio e suporte a esta fase da vida. Por exemplo, por vezes os seus pais podem abrir-se mais emocionalmente com o genro ou nora, do que com os próprios filhos. Acima de tudo porque nunca foram uma força de domínio e autoridade sobre eles, e por isso pode não lhes fazer tanta confusão a perda de autoridade que sentem com os filhos.
Ninguém melhor que os seus pais para conhecer os teus pontos fracos emocionais e sabem como podem afetá-la(o). Se permitir que eles estabeleçam dominância sobre si como uma reação à perda de autoridade, poderão tirar partido desses pontos fracos para se “vingarem”. Não permita que isso aconteça. Acima de tudo deve-lhes os seus cuidados e carinho, mas não lhes deve o seu bem-estar emocional.
É uma fase complicada para toda a família, quando a perspectiva da morte dos pais se aproxima. Muitas vezes as pessoas revelam uma faceta desconhecida, quase sempre por motivos de divisão de posses, dinheiro e testamento. Prepare-se e espere loucuras, mas não participe nelas. Proteja-se o melhor possível mas lembre-se que não há dinheiro ou bem material que valha a sua dignidade.
Há uma máxima que é, se não estiver bem consigo mesmo não conseguirá estar bem para ninguém. Numa fase destas é fácil deixar-se envolver demasiado pelas preocupações e pelos cuidados, mas isso não fará bem a ninguém. Reservar um tempo para cuidar de você e de suas coisas é uma parte importante na sua rotina. Assim terá disposição para melhor cuidar dos seus pais.
Desabafar com amigos, ou com alguém que não esteja diretamente envolvido nos cuidados, pode nos ajudar bastante. Amigos que possam nos aconselhar e apoiar nesta fase, faz toda a diferença. Isto pode te ajudar a distrair-se desses momentos mais difíceis.
No seguimento da amizade, aproveite para se divertir. É importante voltar ao ponto 1 – aceitar que as coisas mudaram – e permitir-se um tempo para se divertir, descontrair, despreocupar. Lembre-se que a sua sanidade mental é vital para cuidar bem dos seus pais e que há coisas que não consegue controlar e que o excesso de preocupação não resolve.
Certifique-se de que consegue manter a sua estabilidade emocional, seja através da fé e religião, ou através da meditação. O mais importa neste momento, é encontrar um ponto de equilíbrio emocional.
Fonte : Revista Reviver
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