Mistura e resistência em direção ao diálogo e a transformação

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Mistura e resistência em direção ao diálogo e a transformação

mistura, transformação

Quero começar 2018 celebrando as sementes que vicejaram em 2017, para que elas possam crescer com muita força e ousadia. Falo de uma experiência com o circo, com a mistura social/cultural, com crianças, adolescentes e suas famílias. Um processo que iniciou com esse formato recentemente. Contudo, já mostra a que veio.

Nosso projeto se chama CASA Escola, e acontece no espaço C.A.S.A. Esse é um centro cultural coletivo que atualmente abarca o Grupo Armatrux e a Companhia Suspensa, ambos de Belo Horizonte/MG, além de outras iniciativas artístico-pedagógicas.

Nossa ambição é poder ampliar, para além de nós, a relação com o circo e com toda a alegria que ele traz em si. Para que cada criança viva sua infância como deve ser: brincando! Já são conhecidos os muitos benefícios que a brincadeira, o movimento e a ludicidade podem exercer na vida de uma pessoa, benefícios estes que se relacionam com o âmbito do desenvolvimento físico, social e cognitivo.

Este projeto teve seu início com o apoio (moral e financeiro) de pessoas que já experimentaram a relação com o circo, aprovaram e que almejam que ela reverbere para além dos próprios filhos. Ou seja, estamos trabalhando coletivamente para que o encanto se propague. Sendo assim, desde agosto de 2017, iniciamos o trabalho neste novo formato.

Quem quer?

A professora e artista Roberta Manata (Companhia Suspensa) já mantinha aulas de circo particulares há alguns anos. Porém, a mudança ocorreu devido sua inquietação de que essa experiência seja para todos aqueles que o desejarem. Com o apoio recebido, nosso critério foi convidar crianças de escolas públicas da região. Tudo iniciou simples assim, com um convite feito na casa de cada um deles. A pergunta ecoa; “quem quer?”. De mansinho a resposta chega. Crianças e adolescentes aparecem para compor a mistura e fazer aula de circo. Para somar aos que já estavam. Para romper com o isolamento e deixar que o encanto se multiplique. E assim formamos uma equipe para atuar nesse novo contexto, com um viés artístico, pedagógico e terapêutico.

A mistura está posta: dos pagantes e dos bolsistas, do novo e do velho, dos já amigos com os desconhecidos, dos que acham que sabe e dos que ainda não reconhecem o que já sabem, do outro e de mim mesma. Sim, muitas resistências apareceram. Tratamos de reconhecer, aceitar e trabalhar com cada uma delas. Uns insistem em não escutar, outros precisam aprender a esperar, outros ainda têm medo do desconhecido tanto quanto de pular uma corda, tem aqueles que possuem dificuldades bem profundas, mas são excelentes em mascará-las. A esses últimos também acolhemos, aceitando se querem sair da aula ou se um simples espernear (em casa ou na aula) já o encoraja a travessia.  

Nessa primeira fase do trabalho estivemos empenhadas na construção da confiança, da estrutura, do ritmo. Na construção de um espaço onde as diferenças sejam reconhecidas e acolhidas. Na construção da base, no sentido poético e literal. Sendo assim, muitos rolamentos são feitos, lagartixas são encenadas, túneis são atravessados.

A mistura

Entre os participantes, a mistura, que num primeiro momento pareceu muito complexa e causou até resistências, já está no lugar do diálogo entre conhecimentos distintos. Sim, distintos, porém complementares. O equilíbrio entre dois pontos passa a ser cotidianamente exercitado no espaço de trabalho. Os participantes experimentam distintos pontos de equilíbrio no seu próprio corpo, além de serem cúmplices da busca pelo equilíbrio por parte dos demais. E isso muda tudo. Cada ser se torna testemunha do esforço do outro e assim se solidariza com as limitações que vão sendo transpostas a cada novo dia. A primeira impressão já não é mais a mesma, pois o outro, no convívio artístico, mostra que é capaz de transformar a si mesmo.

Realizamos a construção de um material artístico que foi feito para ser compartilhado com a comunidade local. Nesse momento celebramos as conquistas já feitas e, ao mesmo tempo, sonhamos coletivamente os próximos passos desse novo caminho que vem sendo ampliado diariamente.

Com tão pouco tempo de ação efetiva com as crianças e adolescentes, novas possibilidades de parceria frutificam. Parece que tudo isso acontece pelo simples fato de se ter começado, de ter sido dado um primeiro passo.


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Num campo mais sutil, a sintonia entre famílias e circo começa a se tornar palpável. Vivemos num tempo onde não basta, apenas, educar-se a si mesmo e ao próprio filho. Se desejamos a transmutação dessa crise humana que está posta, precisamos nos tornar corresponsáveis por uma educação global, que inclua a todos, sempre. E, diga-se de passagem, que esse processo inicie por uma autoeducação, por meio da ampliação das próprias referências, possibilidades e limitações que cada um traz em si.  

Encontros

Além da ampliação no nível pessoal, projetamos uma abertura para a convivência entre as distintas áreas do fazer artístico e pedagógico. Aulas de circo para crianças, adolescentes e jovens em consonância com aulas de música, de teatro, de ballet, de horta, de gastronomia. E por que não encontros para o fortalecimento e a troca entre pais e mães? E quem sabe, encontro com educadores para que isso tudo se espalhe pelo mundo?

Uma nova referência de relação pessoal vem sendo cultivada e exercitada. O cuidado consigo e com o outro deixa de ser uma necessidade moral e se torna uma premissa quando estamos longe do chão, por exemplo. A escuta amplia seu espaço quando a vez de todos é garantida. E rapidamente todos reconhecem uma nova relação que principia… Bem-vindo 2018!


Dentre outras propostas, nosso intuito é modificar esta relação entre pagantes e bolsistas. Partimos da premissa de que, para alcançarmos a transformação pessoal, social e mundial, a convivência entre distintas realidades aconteça, sejam elas financeiras, sociais ou culturais. Nesse contexto, estamos interessados em investidores, não em pagantes da mensalidade do seu próprio filho. Buscamos investidores de um projeto muito mais amplo, que contemple a mistura, a convivência, a formação do ser humano num sentido integral.

Se você tem interesse em conhecer melhor o projeto ou ser um investidor, por favor, entre em contato: lucinhavernet@yahoo.com.br

Lúcia Vernet
Lúcia Vernet
Primeira Dramaterapeuta Antroposófica brasileira, atriz, arteducadora e pedagoga antroposófica. Trabalha com formação de adultos através de processos vinculados a educação, ao teatro e as histórias de vida. Já realizou trabalhos em várias regiões do país, bem como Argentina, Chile, Peru, Bósnia & Hezergovínia, Canadá e China. “Fatos reais ampliados por um olhar reflexivo serão apresentados para que cada leitor possa fazer um processo de reflexão interna a partir da experiência do outro, proporcionando uma comunhão entre a vivência alheia e a sua própria história de vida.” Saiba mais sobre Lúcia
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