Eu te amei, eu te amo…e te amarei?

Agressividade, raiva
A agressividade como linguagem educativa
10 de abril de 2018
Treinamento, aprendizado
Aprender pode ser prazeroso e mais produtivo
12 de abril de 2018
Mostrar todos

Eu te amei, eu te amo…e te amarei?

Eu te amo, amor, love

Eu já disse Eu te amo a diversas pessoas, diversas vezes, algumas repetidamente, outras nem tanto. “Eu sei que vou te amar por toda minha vida” foi um sentimento que permeou todos meus encontros, com todas as pessoas com quem vivi ou compartilhei afeto. Foram pessoas que se sucederam nos meus dias, ou eu nos delas, como se fossem únicas, absolutas, ímpares – e assim, talvez, tivessem sido naquele momento. Não havia falsidade nessa expressão, ao contrário, havia muita sinceridade, havia inclusive o desejo de que isso se realizasse. Antes de ser uma declaração de amor, era uma oração ao universo, para que aquela felicidade momentânea perdurasse ao infinito, até o fim das nossas vidas.

E, embora algumas dessas pessoas não tenham permanecido mais que alguns meses, outras anos indecifráveis (terão sido felizes todos?), a simples lembrança delas hoje mostra sua importância – e que tenham sido importantes por sua dureza, sua tristeza, ou pelo colorido dos dias, não diminui a importância ainda assim – a simples referência de terem passado pelos meus braços, ou por eles se lamentarem por isso, são marcas do que o amor traz, constrói, transforma.

Cadastre abaixo o seu e-mail e receba os destaques do nCiclos

Talvez seja muito romantismo de minha parte acreditar que o amor seja tudo, absolutamente tudo, de que precisa uma pessoa para viver sua vida em paz, feliz, em harmonia, com crescimento (nessa última parte incluo o que não está explicito, mas que promove crescimento: dores, discussões, divergências, tempos diferentes, hormônios, e uma gama de outros sentimentos tais como medo, insegurança, orgulho, vaidade, e que tornam a vida compartilhada tão dinâmica e diversa). Mas mesmo os amigos queridos precisam ouvir Eu te amo de vez em quando. E atualmente até mesmo as relações profissionais carecem dessas declarações e aceitam demonstrações com prazer.

“bastava tão somente a visão do ser amado”

Mas já acreditei piamente que amar fosse um verbo intransitivo, bastando apenas que eu amasse para sentir-me plena, feliz, fluída. Que o amor platônico fosse tão bom e tão significativo que dispensasse declarações faladas ou expressas. De que bastava tão somente a visão do ser amado, observá-lo em seu dia, sua normalidade cotidiana, no seu gesto simples, espontâneo, para que me sentisse um ser especial, amado por deus.

Eu te amo, amor

Isso foi há muito tempo. No tempo em que eu não havia experimentado ainda o contato dos lábios que se desejam, do olhar que penetra. No tempo em que eu não sabia o que era sofrer por amor. Em que não entendia ainda o que era esperar em vão por um sinal, qualquer sinal, de reconhecimento. Num tempo anterior de eu descobrir no corpo o que uma presença causava, e de como sua ausência doía. Antes de perceber no peito que amar é um verbo complexo demais para ser conjugado apenas na primeira pessoa.


Você vai gostar deste texto: Seu sorriso…que prende o olhar feito encantamento!


Hoje sei que não foi em vão nenhum desses Eu te amo que expressei e expresso. Porque entendo ser o amor como é – fogo – precisar de mais dele para ser. O fogo se alimenta do fogo como o amor se sustenta no amor. Não há como viver o amor sem cantá-lo. E não há como ser amor sem o colorido de todas as cores que puder haver. O amor se vive de corpo inteiro, em todos os sentidos, até naqueles surreais como imaginação, como o sonhar.

Além do mais, algumas dessas pessoas apenas passaram pela minha vida para, amorosamente, me permitirem que transpusesse a margem, para que eu saísse de um relacionamento definhado e sem forças, ou para que ambas pudéssemos nos atirar ao desconhecido, em detrimento do medo ou da insegurança que nos oprimia. E, pelo desejo de manter algo que nos libertou, cremos na continuidade de algo que teve o propósito apenas de ser passageiro, de ser uma ponte, de ser uma companhia na estrada das mutações. Às vezes, a presença de alguém na nossa vida pode ser tão somente uma vibração para o próximo passo. Mais nada que isso. E, se é difícil entender, é difícil deixar ir.

“Eu te Amo”

Por que não é só a parte do Eu te amo que cria um constrangimento na hora de olhar-se ao espelho e ver-se naquela estranha posição de acreditar mais uma vez nessa emoção. Tem a outra, quase mentirosa, quase apenas sedutora, que é o para sempre. Quanto tempo durou meu último para sempre? Mas sei que isso é possível porque vejo muitas pessoas vivendo nesse gerúndio. E que, sim, para sempre pode ser muito feliz. Eu vejo esses exemplos e deduzo que não é uma imaginação, uma ilusão, um sonho. Um relacionamento pode ser continuamente reconfortante e ao mesmo tempo desafiante, inspirador e terno, pode ser uma noite de dormir de conchinha e outra de espalhado pela sala.

Olhando agora pela janela, para a lua que se depreende atrás das nuvens, ouvindo o vento passando pelas folhas das árvores, no tempo que é só meu, que não preciso dividi-lo com mais ninguém, no infinito das horas que uma vida é, penso em que sono calmo ou luxúria você se encontra enquanto estou acordada. Nesse momento em que reconheço a presença do amor também nos desencontros, como o silêncio faz parte da música, é que entendo que o amor é o tempo que passa.


Leia também: Para que o jogo do Amor não tenha fim…


comentários

Cadastre abaixo o seu e-mail e receba os destaques do nCiclos

Fernanda Kurebayashi
Fernanda Kurebayashi
É uma experimentadora dos aromas, dos perfumes e dos sonhos. Uma alquimista, investigadora de cheiros e de sabores que assina suas criações colocadas em potes como “A Senhora das Especiarias”. Fernanda mudou-se para Gonçalves – pequena cidade de MG, lugar mágico encravado na Serra da Mantiqueira – a procura de uma vida longe do estresse do trabalho corporativo e da cidade grande. Sua história tomou uma nova direção e hoje surfa numa onda que é linda e também desafiadora: acreditar na vida e nas pessoas.
0