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Pelo prazer de gerar e criar

“É cria, criatura e criador
Cuida de quem me cuidou
Pega na minha mão
Me guia”
Serginho Meriti / Cesar Belieny

Tenho trinta anos, e um filho com 5 meses. Tenho a possibilidade de ser mãe, de educar e auto-educar. Tenho enormes desafios de criadora, mas muitas motivações de criatura. Tenho ofícios a cumprir! Voz para cantar, mãos para fazer e coração para refletir.

Entendendo que muitas limitações que se revelam na fase adulta têm sua raiz na infância, meu olhar atualmente está bastante interessado nessa fase da vida, nas pessoas enquanto crianças.

“…cria, criar, criação, criatura, criador(a).”

Atualmente, exercendo a licença maternidade, me sinto inspirada pela criação cotidiana, pela arte enquanto escolha de vida. Um sentimento de isolamento do mundo se contrapõe ao de maior pertencimento a ele. A arteducação se expressa na relação entre a cria e a criatura. Antes de ser mãe nunca havia pensado no significado desta brincadeira com as palavras: cria, criar, criação, criatura, criador(a). Aliás, muita coisa não havia pensado antes de me tornar mãe.

Antes possuía o desejo que minha casa se tornasse um ‘Ambiente Pedagógico’, hoje isso é uma necessidade. E assim está posto meu desafio atual de criar meu filho enquanto arteducadora.

Influenciada por toda essa nova situação de maternidade, tenho observado e refletido sobre a influência dos trabalhos de ofício na formação humana. Onde estão os marceneiros, padeiros, sapateiros, etc? Construir com as próprias mãos, fazer seu próprio alimento/vestimenta, confiar na transformação dos ingredientes. Que influência pode ter tudo isso enquanto formação humana? O educador(a) como alguém que faz o tempo todo, alguma coisa, que cumpre seus ofícios. Ora cozinha, ora varre, ora costura, ora arruma o espaço, ora coloca água nas plantas. E assim com seus ofícios, educa! Arteduca! Educa fazendo.

“Essa referência íntima e familiar é passada,
atualmente com bastante frequência,
por outra pessoa que não os próprios pais.”

Qual a influência na formação da criança quando a mesma convive com adultos (pais) que não cumprem estes ofícios, ou que não executam esse tipo de trabalho nas suas próprias casas? Tendo em conta que isso está se tornando cada vez mais comum, o que isso pode significar em termos de formação humana? Essa referência íntima e familiar (e aqui também penso na escola como lugar de cultivo desta referência) é passada, atualmente com bastante frequência, por outra pessoa que não os próprios pais.

E como os ofícios interferem nas brincadeiras infantis? Que relação tem o fato de estar cada vez mais extintas as atividades de ofícios, as atividades manuais, com a grande demanda de brincadeiras eletrônicas e automáticas?

Não tenho resposta, talvez muitas perguntas. Inclusive me sinto aprendendo a ler todas essas informações. O que é revelado em cada brincadeira? Como a brincadeira escolhida revela a criança e sua própria história? E por aí vai, as perguntas não param!

Por ora me contento com estas perguntas auto-provocadoras. E finalizo como iniciei:

Tenho trinta anos, e um filho com 5 meses.
Tenho o Pedro! Tenho muitas perguntas pela frente…!

Leia também: O louco, a prostituta e a criança…um encontro eterno.

Texto escrito em 2009

Lúcia Vernet
Lúcia Vernet
Primeira Dramaterapeuta Antroposófica brasileira, atriz, arteducadora e pedagoga antroposófica. Trabalha com formação de adultos através de processos vinculados a educação, ao teatro e as histórias de vida. Já realizou trabalhos em várias regiões do país, bem como Argentina, Chile, Peru, Bósnia & Hezergovínia, Canadá e China. “Fatos reais ampliados por um olhar reflexivo serão apresentados para que cada leitor possa fazer um processo de reflexão interna a partir da experiência do outro, proporcionando uma comunhão entre a vivência alheia e a sua própria história de vida.” Saiba mais sobre Lúcia
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